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Memória de Portugal amesquinhado
Integrado no plano da edição da obra completa de José Gomes Ferreira, a Dom Quixote acaba de publicar três volumes do diário do escritor
Enchem-se-me os olhos teimosamente de lágrimas sempre que recebo mais um livro de José Gomes Ferreira, querido amigo desaparecido, que me ensinou a conservar o sorriso ao longo dos dias que vamos vivendo, e a esperança no mundo, apesar de tudo, e até nos outros, que nos levam a desconfiar de tanta coisa.
Aliás, para mim, reler os seus diários, a sua poesia, continua a ser isso: um ensinamento de fraternidade e de tolerância. Livros que desejo guardar não só na estante, a meu lado, mas junto ao coração que a sua escrita faz bater mais depressa, de emoção e de saudade.
Dentro do plano da edição da sua obra completa, publicou agora a Dom Quixote Dias Comuns I - Passos Efémeros, Dias Comuns II - A Idade do Malogro e Dias Comuns III - Ponte Inquieta.
Três volumes do seu inesquecível e humaníssimo diário, pelo qual passeamos ao longo do nosso passado português mesmo que tal nos angustie, no reencontro com os pesados e atemorizantes anos do fascismo (que talvez erradamente queríamos esquecer...), não deixa de nos continuar a dar asas.
São, pois, textos inestimáveis, a trazer-nos de volta a memória de um Portugal amordaçado, amesquinhado. Pobre País no qual, apesar de tudo, José Gomes Ferreira acreditava.
Encontramo-nos, então, frente a vários pequenos retratos, precisos e lúcidos, sensíveis e ternos, de uma época. Nossas raízes, à boca da insegurança.
E mesmo se, no centro do desespero, a modificar-se em alegria.
Quando me pedem que descreva a figura de um poeta, dou a de Zé Gomes, pelas ruas de Lisboa, cabelos brancos despenteados pelo vento, a fazer versos ao quotidiano, com arco-íris e pássaros.
Homem do sonho, tentando transformar o sofrimento em imagens de luz, aberto ao abraço e ao respeito por aqueles que o cercavam. Por isso pediu:
"Imprimam sempre esta sentença no princípio de todos os seus diários:
Àqueles que ofendo, por ter sido mal informado, pelo que me perdoem e continuem a sorrir para a imagem."
O muito que ele me ajudou nunca lhe pagarei, sentindo de tal maneira a sua falta que às vezes penso que desde a sua morte os anos não passaram. Por isso, também me perco nas páginas destes três diários agora editados, ainda e permanentemente tentando encontrá-lo.E, na realidade, em cada frase, ei-lo inteiro, na sua perfeição das palavras imperfeitas de que tanto gostava, e com as quais buscava o mundo.(27.12.00/Fonte : Diário de notícias)
Natal pago a cartão de crédito
Mais de 80 % das compras são feitas com o Visa, dizem os comerciantes. Um sinal da eficácia das campanhas dos bancos
"Visa ou Multibanco?" A pergunta repete-se de loja em loja, de compra em compra. A resposta, dizem os comerciantes, é quase sempre a mesma: Visa. Outrora associado a um status social elevado, o cartão de crédito tornou-se um produto das massas. "Este ano há muito mais gente a comprar com Visa, qualquer pessoa tem um", afirmou Nuno Cavaco, operador de caixa da Valentim de Carvalho. Os comerciantes entrevistados pelo DN garantiram-nos: "Mais de 80 % das compras são feitas a crédito."
Um sinal da eficácia das campanhas lançadas por várias instituições bancárias, com o objectivo de promover o consumo a crédito. Tal como o DN noticiou atempadamente, o Barclays, por exemplo, oferecia aos seus clientes um cartão com taxa zero até Fevereiro. O Totta e o Crédito Predial Português optaram por enviar para casa de clientes cheques de crédito pré-concedido.
Em relação ao volume de vendas, estima-se que entre 5 de Novembro e 5 de Dezembro o comércio de Lisboa tenha registado uma quebra de 5 % a 10 %, em relação ao período homólogo de 1999. A razão desta quebra, segundo disse ao DN Pinto Correia, secretário-geral da União das Associações dos Comerciantes do Distrito de Lisboa (UACDL), deve-se a diversos factores, entre os quais a instabilidade política que se vive no País. "As saídas repentinas de membros do Governo, assim como a polémica à volta do Orçamento de Estado, são situações que se refletem na actividade económica e retiram confiança aos consumidores", salientou.
O endividamento das famílias, assim como a despesa pública, "que é das maiores da Europa", são outros indicadores apontados pelo responsável da UACDL.
No caso específico de Lisboa, "há ainda que acrescentar as obras no Rossio. Já que se esperou tantos anos, podia ter-se esperado mais um mês. Com início em Dezembro, as obras começaram na pior altura". A queixa foi ouvida pelo DN junto de vários comerciantes da maior zona comercial da capital (1600 lojas), que afirmaram estar a ser fortemente prejudicados.
"Será que não podiam ter esperado por Janeiro, uma altura onde a quebra das vendas já é habitual?", questiona, indignado, Albino Barata, subencarregado da Loja das Meias.
Manuel Silva, sócio-gerente da Sapataria Arte, foi o único comerciante que nos disse não atribuir às obras a quebra das vendas. "A Praça da Figueira também já passou por uma situação semelhante e não foi por isso que os negócios correram pior. Acho que o problema é mesmo o fraco poder de compra dos portugueses."
Nos centros comerciais, verdadeiras capitais do consumo, vive-se um ambiente bem diferente. Os empregados das lojas de telecomunicações, informática e decoração não têm mãos a medir. Outras, com menos clientes, não parecem estar insatisfeitas. "Estamos a vender mais do que no ano passado e por um período mais longo", salientaram os empregados da Ourivesaria Vanda, do Oeiras Parque.(24.12.00/Fonte : Diário de notícias)
Compras aumentam endividamento
Segundo o Banco de Portugal, há um crescimento significativo das dívidas dos particulares, sobretudo em bens de consumo
"Está na altura de fazer uma extravagância". É assim que um conhecido banco português alicia os clientes para usarem o cartão de crédito. A mensagem é extensível ao sector bancário e os comerciantes agradecem porque o seu dinheiro está seguro. O pior são as dívidas dos portugueses. Segundo o Banco de Portugal, em 1999, houve "um aumento significativo do endividamento particular junto das instituições bancárias". Uma tendência que vai acentuar-se este ano, diz a Deco.
Não são apenas os bancos a facultarem cartões de crédito. Também as empresas atribuem créditos aos consumidores e estes, com juros bastante mais elevados que os das instituições financeiras, como conclui um estudo da revista n.º 42 da Dinheiro & Direitos, de Outubro/Novembro.
Aquelas "prendas" chegam-nos diariamente a casa, via caixa do correio. Ou seja, mesmo os consumidores que não procuram o crédito, este é-lhes cedido com todas as facilidades e é difícil resistir. Facilidades que desaparecem quando se trata de pagar.
Ganham as instituições bancárias com os juros, chegando a cobrar taxa se a pessoa quiser pagar o dinheiro emprestado antes de expirar o prazo. Para os comerciantes é igualmente dinheiro em caixa e quando se lhes fala em sobreendividamento, dizem que a culpa é da habitação.
É verdade que as maiores dívidas são com a compra de casa própria, mas tem-se verificado uma desaceleração neste sector, enquanto aumenta o crédito para a aquisição de bens de consumo.
"A taxa de crescimento do crédito a particulares reduziu-se de 31,4% em Dezembro de 1998 para 28% em Dezembro de 1999, após ter atingindo o máximo de 34,9% em Junho. Este abrandamento resultou essencialmente da evolução do crédito à habitação, cuja taxa de crescimento em Dezembro de 1999 foi de 29,7%, inferior aos 34,8% registados em igual período de 1998", refere o Relatório Anual do Banco de Portugal. Já no que diz respeito aos créditos a particulares para outros fins, houve uma ligeira subida, de 23,1% para 23,2%.
Em consequência, alerta o mesmo documento, o nível de endividamento dos particulares apresentou uma acentuada subida em 1999. O total de responsabilidade das famílias face ao sistema financeiro atingiu 76,5% do rendimento disponível em Dezembro de 1999, contra 62,8% em 1998. "A taxa de esforço agregada das famílias deverá ter registado um aumento sensível", conclui o relatório.
Uma taxa de esforço que aumentou significativamente este ano com a subida dos juros dos empréstimos. Por outro lado, segundo Gonçalo Correia, técnico da Edideco, editora da Deco, o nível de endividamente deverá subir acima dos 80%. Números que fazem antever problemas de sobreendividamento.
Não conseguimos saber junto da Unicre, entidade responsável pela emissão dos cartões de crédito, qual a percentagem das dívidas em atraso. Mas, segundo as estimativas do Banco de Portugal, citadas no livro "O Endividamento dos Consumidores", os saldos de dívida do crédito ao consumo aumentaram de 3%, em 1990, para 16% em 1998, ou seja, cresceu cinco vezes mais em oito anos e, nos últimos três anos, quase duplicou.
Perante a situação, os técnicos da Dinheiros & Direitos, da Deco, aconselha os consumidores a serem cautelosos. "Um crédito deve ser encarado como um bem de consumo vulgar; em que o vendedor realça apenas os aspectos positivos do produto. Um cartão de crédito ou o descoberto da conta de ordenado não são sinóminos de mais um ou dois ordenados. Não se deixem iludir pelos argumentos das instituições financeiras", referem na revista n º31. E acrescentam: "O crédito deverá apenas antecipar despesas ou resolver casos pontuais e não incentivar o consumo de bens que terá dificuldades em pagar".(22.12.00/Fonte : Diário de notícias)
Instituto Camões lançou, na terça-feira, três publicações dedicadas a Eça de Queirós. Uma iniciativa integrada num projecto internacional de comemoração do centenário da morte do escritor
"Porque a escrita é um dom, e dos deuses - como a beleza." Jorge Couto, presidente do Instituto Camões, resumiu assim, com palavras de Eça de Queirós, todas as razões que se poderiam enumerar para justificar um triplo lançamento dedicado à vida e obra do escritor. Numa cerimónia realizada na sede do Instituto, terça-feira passada, foram apresentados ao público um número duplo de Camões - Revista de Artes e Letras, totalmente dedicado a Eça, o Álbum de Retratos de Eça de Queirós e Páginas Flutuantes - Eça de Queirós e o Jornalismo do Século XIX.
No Álbum de Retratos reúnem-se textos e imagens de 40 autores, entre escritores e artistas plásticos, que retratam Eça de Queirós. Uma colecção que, pelo imaginário colectivo que reproduz, demonstra a "importância vital da obra de Eça para a afirmação da nossa identidade", sublinhou Isabel Pires de Lima, responsável científica do projecto.
Páginas Flutuantes, da brasileira Elza Miné, recolhe uma colecção de estudos sobre o jornalismo de Eça. "Um jornalismo que se esteticiza ao ponto de se fazer publicar, ou uma literatura que se faz jornalismo", como resumiu Ana Bela Rita, professora responsável pela apresentação.
Este lançamento representa o culminar de um programa intitulado Eça de Queirós entre Milénios - Pontos de Olhar, que envolveu, designadamente, um Ciclo Internacional de Colóquios realizados durante este ano em Havana, Paris, várias cidades brasileiras e ainda Bristol, prosseguindo, no primeiro trimestre de 2001, em Buenos Aires, Montevideu e Santiago do Chile. "A viagem foi um elemento determinante na escrita de Eça de Queirós, cujos "pontos de olhar" marcaram um ponto alto da contribuição portuguesa para a literatura mundial" - Jorge Couto explica assim a necessidade deste arrojado projecto de internacionalização das comemorações do centenário da morte do ilustre representante da Geração de 70.(21.12.00/Fonte : Diário de notícias)
Ir à antiga Grécia sem sair de Lisboa
Exposição moderna e bem concebida abre hoje em Lisboa, comemorando 150 anos de arqueologia da escola francesa
Ir à Grécia ver como viviam os gregos sem sair de Portugal. Vir de Tassos, ilha bem no Norte da península helénica, até Delfos, pela mão do ficcionado atleta Téogenes, onde vai competir nos jogos pitonisíacos (que eram bem mais importantes que os olímpicos), é uma viagem no espaço e no tempo que a exposição que abre hoje ao público no Museu Nacional de Arqueologia proporciona. Chama-se "O Espaço Grego". Esta exposição tem como objectivo comemorar os 150 anos da Escola de Arqueologia Francesa, e depois de ter dado uma volta pela Europa e dado um salto aos Estados Unidos vai estar entre nós até 15 de Março.
Para aguçar o apetite, dizemos que o visitante é recebido por Teógenes no ágora, espaço grego por excelência para receber os visitantes. Logo alí começa o encanto das novas tecnologias. Jovens e graúdos tomam desde logo conhecimento com o que se vai desenrolar aos seus olhos. Com o apoio de belissimas maquetas, painéis de excelentes e elucidativas fotografias referentes aos modelos que lhes estão próximos, com videos a três dimensões, e um jogo-vídeo interactivo, que nos mostram desde a arquitectura ao viver quotidiano do gregos, percorremos os seis módulos da exposição. São eles: o espaço minóico, ao espaço grego (de Mália à Idade do Bronze); os territórios; o espaço na cidade; o espaço público; o espaço sagrado e o espaço doméstico. Cada um deles nos ajuda e mostra como funcionavam em relação à sociedade grega.
Os tempos fortes desta viagem ao coração da antiga Grécia utilisa uma importante iconografia, textos pedagógicos redigidos por especialistas, doze maquetes de locais da antiga Hélade, CD-ROM, uma terminal interactivo e ainda um passeio a três dimensões a ao palácio de Marmaria.
Os visitantes descobrirão a reconstituição do sítio de Marmaria com a ajuda de um filme com imagens em relevo e que é uma sintese enter as imagens reais e o decor natural. Munidos de óculos especiais, pedemos percorrer virtualmente todo o santuário.
Viver em Tassos, há 2500 anos é o milagre que o terminal interactivo nos proporciona, e nos leva ao bairro de Silene, na quela cidade, e resulta das escavações e pesquisas minuciosas feitas no local.
Um terminal de animação interactiva permite-nos andar pelas ruas da cidade, entrar nas casas, e viver o quotidiano de um bairro que foi ocupado sem interrupção durante 300 anos, etar a par da complexidade das relações humanas confrontadas com os problemas do urbanismo, a evolução das modas e técnicas artesanais, como funcionavam os sanitários, o abstecimento de água, como eram as mobílias, as receitas gastronómicas. Tudo ao alcance de um toque de dedo num ecrã. Até está lá dentro um grego que nos ensina as coisas mais interessantes de Tassos. Até mesmo os jogos infantis da época.
Para prender ainda mais a atenção dos alunos das escolas (há visitas guiadas e o melhor é marcá-las já) o Grupo de Amigos do Museu Nacional de Arqueologia editou, com os mais variados apoios, uma brochura que conta, entre texto e cartoon, a tal viagem do "nosso amigo Teógenes", que foi competir a Delfos, onde há leitura para "antes, durante e depois" da visita, fazendo um acompanhamento excelente da visita.(19.12.00/Fonte : Diário de notícias)
Em 1999, existiam 789 unidades, mas apenas um quarto são verdadeiros centros comerciais. O futuro é das grandes áreas
Os centros comerciais são um sucesso em Portugal e estão em expansão. O melhor exemplo é o Colombo, que recebe diariamente cem mil visitantes, mais do que a população da maioria das cidades portuguesas. Os clientes totalizam cerca de 37 milhões por ano e é nele que estão localizadas as lojas da Zara e da Mango que mais vendem em todo o mundo.
Ao contrário do que é habitual, esta é uma área onde os gestores não se queixam das receitas. O Centro Colombo - exemplo máximo das catedrais de consumo - registou em 1999 um volume de vendas de 82 milhões de contos, sem contar com as transacções do Continente e da C&A, proprietários das áreas que ocupam.
De acordo com um levantamento realizado pelo Observatório do Comércio, há um ano existiam no país 789 unidades. Mas, segundo a Associação Portuguesa de Centros Comerciais (APCC), apenas um quarto dos espaços cumprem os requisitos para serem classificados como centros comerciais.
Um centro comercial tem de ter pelo menos 12 estabelecimentos e uma área bruta de 500 metros quadrados, com actividades comerciais planeadas e diversificadas, de acordo com um planeamento prévio (mix comercial), possuir uma unidade de gestão e ter um regime de funcionamento ser comum a todos os lojistas. As lojas deverão ser instaladas num único edifício ou em edifícios contíguos interligados.
A grande maioria das unidades é de pequena dimensão, 77,6% (612 centros) não atinge os 2500 metros quadrados e só 8,7% (69) excedem os 5000 metros quadrados. Do total, 20,7% (161) têm lojas âncora (principalmente, grandes superfícies) e 20% possui estacionamento próprio. Entre as que não vivem à sombra de um hipermercado, apenas 2,4% (19) tem mais de dez mil metros quadrados (ver quadro).
Números que nos dão conta de realidades diferentes, mas segundo o Observatório do Comércio e a APCC, a tendência é para o aumento de grandes empreendimentos e de lojas cada vez maiores, o que é confirmado por quem trabalha no sector.
"Voltou a moda das áreas grandes, sobretudo as empresas de franchise. Marcas que de início tinham uma loja com 30/40 metros quadrados, agora, sempre que podem aumentam o espaço", diz Maria José, do Amoreiras Shopping Center. A unidade foi inaugurada em 1985 e corresponde à segunda etapa da história do sector em Portugal.
O Amoreiras marcou uma época e, com o aparecimento do Centro Colombo, em 1997, temia-se o pior em termos de receitas. De início registou-se uma ligeira diminuição e, hoje, os seus promotores estão satisfeitos com os resultados. "Houve uma separação das águas. A nossa clientela é essencialmente constituída pelas classes A/B", refere Maria José.
Mais próximo do Colombo, o Fonte Nova, inaugurado no mesmo ano que o Amoreiras, também conseguiu manter-se, acabando por beneficiar do número de clientes que se deslocaram para aquela zona de Lisboa, Benfica. Estes dois exemplos são a prova, segundo os representantes dos centros comerciais, em como é possível resistir à concorrência das catedrais do consumo.
"O comércio tem que ir à procura do cliente e não pode ficar parado. Tem que se adaptar às novas realidades. Quando dizem que o pequeno comércio está a desaparecer, costumo dizer que desapareceu o que devia porque o que tem interesse continua a dinamizar-se e alguns abrem lojas nos centros comerciais", diz António Sampaio, director da APCC. E justifica: "O comércio é só um, esteja localizado na rua ou num espaço concentrado, mas não se pode continuar com a mesma loja há 50 anos e a vender o mesmo produto."
O Observatório do Comércio reconhece existirem "alguns efeitos nocivos para o comércio tradicional", mas diz que, "de forma alguma, se poderá esquecer que os centros comerciais são talvez das poucas manifestações permanentes da paisagem urbana susceptíveis de trazer a cidade para os subúrbios, guarnecendo os bairros dormitórios com a função comercial; criar no seio de urbanizações mais recentes alguns focos de centralidade, onde à semelhança da praça de outros tempos, a população residente se pode abastecer, distrair e conviver; participar de forma decisiva na renovação do centro da cidade e de outras áreas manifestamentre em crise e induzir na novos espaços de modernidade".
O estudo que o Observatório do Comércio realizou, "Centros comerciais em Portugal, conceitos, tipologias e dinâmicas de evolução", conclui: "Em conjunto com os hipermercados, os centros comerciais constituem as formas de comércio que mais alterações têm produzido nos hábitos de consumo e de abastecimento, nas práticas de lazer e na ocupação dos tempos livres."
Os empresários acreditam que o sector vai continuar a crescer...(18.12.00/Fonte : Diário de notícias)
Vai custar menos comprar computadores
Com o projecto Iniciativa Internet Mariano Gago pretende alcançar alguns objectivos a fim de desenvolver as tecnologias em Portugal. Segundo um relatório provisório, que irá hoje a debate, espera-se que, até 2003, 50 por cento das famílias portuguesas possuam computador nas suas residências. Para isso, há que "reforçar o regime de incentivos fiscais à aquisição de computadores pelas famílias".
Quanto à taxa de penetração na Internet deverá ser em 2003 também de, pelo menos, 50 por cento. Percentagem possível se se conseguir reduzir significamente os custos de tráfego, medida que, aliás, já foi anunciada pelo Governo. Outras das medidas em já em curso é a implantação de postos públicos de acesso à Net em todas a freguesias. A criação de ciber-cafés, montras digitais (medida que se enquadra no programa Cidades Digitais) será uma forte aposta para o ano de 2001.
O incentivo ao comércio electrónico deverá ser multiplicado por 100 nos próximos três anos. Outro dos objectivos é aumentar os conteúdos na Internet através do desenvolvimento acelerado do espaço de conteúdos de origem portuguesa, multilingues, e a língua nacional.(15.12.00/Fonte : Diário de notícias)
Fábrica da Azambuja escapa à reestruturação do grupo General Motors. Plano prevê a supressão de 10 mil postos de trabalho a nível mundial
A Opel não prevê qualquer impacto em Portugal do programa de reestruturação anunciado esta semana pelos norte-americanos da General Motors (GM) e que visa o encerramento das fábricas da Vauxhall, no Reino Unido, e da Oldsmobile, nos Estados Unidos. O plano apresentado esta semana, em Detroit, EUA, prevê ainda a supressão de 10 mil postos de trabalho em todo o mundo, dos quais cinco mil na Europa.
Miguel Tomé, porta-voz da Opel Portugal, afirmou ao DN que a empresa mantém o programa de investimentos em curso na fábrica da Azambuja e não se prevê redução nos postos de trabalho no mercado nacional. A Opel, filial europeia da GM, tem em finalização na Azambuja um plano de investimentos, com vista à modernização da sua unidade, no valor de 26 milhões de contos. A fábrica iniciou em Outubro a produção do novo modelo Corsa. No global, a Opel emprega em Portugal 1 100 pessoas, das quais 1 050 na unidade da Azambuja, que foi alargada com a aquisição dos terrenos da antiga Ford Lusitana.
A situação da Opel em Portugal é exemplar a nível do grupo, já que o seu volume de vendas continua a aumentar, mantendo-se no segundo lugar, a seguir à Volkswagen. Miguel Tomé realçou que, de Janeiro a Novembro deste ano, a marca vendeu um total de 39 808 veículos, dos quais 28 876 no segmento dos ligeiros de passageiros. A unidade da Azambuja deverá encerrar este ano com uma produção de 55 mil veículos. Com a conclusão do plano de investimento, a fábrica ficará com uma capacidade instalada de 70 mil veículos/ano.
O plano de reestruturação aprovado pelo gigante do sector automóvel, de capitais norte-americanos, prevê reduzir no mercado europeu a sua capacidade produtiva em 400 mil unidades até 2005 e despedir cinco mil trabalhadores. A fábrica da Vauxhall, em Luton, Reino Unido, que produz o Vectra, é a mais afectada, já que a decisão da GM vai no sentido de a encerrar.
A decisão da GM prende-se com vários factores, entre os quais o decréscimo dos resultados do quarto trimestre e o "redireccionamento dos consumidores", que escolhem cada vez mais veículos utilitários e optam pelos motores diesel. A juntar a isto tudo, Miguel Tomé cita o "esmagamento dos preços" devido à forte concorrência.(14.12.00/Fonte : Diário de notícias)
Relatório da Liga dos Direitos Humanos diz que a combustão de uma vela poderá ter levado à asfixia dos detidos em celas exíguas em Montepuez
Uma vela poderá ter estado na origem da morte por asfixia de mais de 80 detidos nas celas do Comando Distrital da Polícia em Montepuez (província de Cabo Delgado), em Novembro, segundo a conclusão preliminar da investigação levada a cabo pela Liga dos Direitos Humanos (LDH), divulgada ontem em Maputo.
A LDH, que deverá publicar o relatório completo nos próximos dias, argumenta que a vela, acesa por um recluso no interior de uma cela com mais de cem pessoas, se apagou momentos depois. A combustão da vela terá reduzido em grande medida o pouco oxigénio que existia.
Manuel Aly, um dos 21 sobreviventes, narra que se salvou buscando ar num espaço que servia de casa de banho e que outros terão escapado ao captar o oxigénio debaixo da porta de grades da cela, fechada e a não permitir a circulação do ar.
Nem reclusos nem polícias conseguem explicar a proveniência da vela e do isqueiro usado para a acender e dizem não ser normal a presença de objectos desta natureza dentro das celas.
O relatório preliminar da Liga dos Direitos Humanos chama a atenção para a divergência no número de mortos na tragédia de 21 de Novembro. O balanço oficial é de 83 mortos, mas uma fonte hospitalar situa este número em 135, enquanto nos meios populares se fala de mais de 150 mortos. Além destes, há relatos de mais 130 mortos entre camponeses perseguidos e assassinados nas suas machambas por "grupos vigaristas ligados aos Grupos Dinamizadores", o braço directo da Frelimo a nível dos bairros.
No seu relatório, a LDH diz ter visto, em Montepuez, cerca de 50 detidos a serem julgados debaixo de um cajueiro, na sua maioria velhos e mulheres, sem defensores oficiosos. Alguns desses julgamentos, denunciou a Liga, são efectuados pelos secretários dos Grupos Dinamizadores e outros membros das células da Frelimo, sem formação jurídica.
"Em Montepuez há uma grande ausência de autoridade do Estado. As autoridades locais assumem-se autoritárias num cenário de anarquia total, a ponto de os Grupos Dinamizadores e populares deterem co-cidadãos e os julgarem à margem da lei", afirma-se no documento.
A LDH, presidida por Alice Mabota, sustenta ainda que 70 por cento dos detidos são pessoas de mais de 50 anos que simpatizaram com as manifestações da Renamo, vivendo em condições da maior imundície no Comando Distrital em Montepuez. Mabota descreve um ambiente de medo e tensão social neste distrito, em que as pessoas se vigiam mutuamente, num clima propício à eclosão de uma nova guerra civil.(11.12.00/Fonte : Diário de notícias)
"Tu és a Mulher da Minha Vida, Ela a Mulher dos Meus Sonhos" é o resultado da união de dois dos mais talentosos autores portugueses de BD - Pedro Brito e João Fazenda. Uma excelente surpresa
O título é comprido - Tu És a Mulher da Minha Vida, Ela a Mulher dos Meus Sonhos - mas o fôlego da obra também: perto de uma centena de páginas, algo de muito raro na banda desenhada portuguesa. Com este álbum, Pedro Brito, de 25 anos, e João Fazenda, de 21, confirmam todas as qualidades que trabalhos anteriores insinuavam, afirmando-se como dois nomes incontornáveis da criação nacional.
Apesar das suas actividades principais não serem a BD (Brito tem-se dedicado à animação e Fazenda à ilustração), a paixão pelo género ainda está suficientemente acesa para não perderem de vista a arte de juntar textos e imagens. É verdade que a produção de ambos tinha abrandado no último par de anos, mas o belo álbum que agora chega às bancas, evidenciando uma ambição, quer ao nível do texto quer ao nível do traço, digna de realce, vem compensar o tempo de espera.
Tu És a Mulher da Minha Vida, Ela a Mulher dos Meus Sonhos conta a história de Tomás, um escritor a braços com um argumento de BD que custa a sair e uma crise matrimonial que se tende a agravar. Ambos os vértices do problema - as dificuldades amorosa e criativa - evoluem a par, entrelaçando-se, complicando-se ou resolvendo-se quase em simultâneo, na medida em que aquilo que falta a Tomás é uma musa inspiradora: "Ouvi dizer que estavam em vias de extinção", afirma.
O fôlego do livro permite que esses cruzamentos de situações sejam resolvidos com engenho, e Pedro Brito, que apesar de também ser um bom desenhador veste aqui unicamente a pele de argumentista, consegue obter aquilo que a sua própria personagem persegue: a prova de que a BD não precisa de ser uma "linguagem infantil que nunca nos prende a leitura". E embora, aqui e ali, em particular nos diálogos mais prolongados, sintamos uma certa falta de elaboração, a estrutura e fluidez da obra compensam as falas menos conseguidas.
Em relação ao trabalho de João Fazenda, ele é exemplar, prolongando a linha gráfica que já havia adoptado nas ilustrações para O Rapaz de Papel, de Nuno Artur Silva, utilizando o traço negro em desenhos a roçar o esquisso e a cor vermelha para dar espessura e avivar as pranchas. Assinale-se que ao nível da planificação - e exactamente porque parece não existir uma planificação - Fazenda dá mostras de uma enorme habilidade e de um virtuosismo surpreendente para quem tem apenas 21 anos: cada prancha é tratada como uma entidade individual e algumas soluções gráficas (o corte da mão, logo na página 18; Tomás rodeado de palavras, na 44; o encontro com a mulher dos seus sonhos em plano subjectivo, na 82) são verdadeiros achados.
A par de Mr. Burroughs, de Pedro Nora e David Soares, também ela uma novela gráfica ambiciosa sobre dificuldades criativas, esta obra de Brito e Fazenda, na Polvo, é o grande álbum português do segundo semestre de 2000.(11.12.00/Fonte : Diário de notícias)
A situação financeira da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, em Lisboa, agrava-se. E a direcção acusa o Governo de dever dinheiro à escola. A Associação de Estudantes queixa-se da falta de salas de aula e das paredes que escorrem água. Decidiu, por isso, referender o boicote às propinas, mas os alunos não responderam ao apelo. Só 220 votaram. A maioria disse que não quer pagar.
Na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH), em Lisboa, existem salas do curso de Geografia onde "chove torrencialmente"; há aulas que são dadas em auditórios repletos de estudantes ao "molho" e um pavilhão cujo tecto já "cedeu três vezes". Nas casas de banho, dizem os alunos, falta frequentemente a água, a luz e o papel higiénico. Chegaram mesmo a faltar as portas numa das casas de banho das raparigas. "Agora, estão tão inundadas que para lá entrar, só de galochas", diz Lucília, estudante de Sociologia. Isto para além das mazelas que afectam o "novo" edifício e que estão à vista de qualquer um - as poças de água encharcam o átrio e as infiltrações gotejam das paredes.
Para a Associação de Estudantes (AE) da FCSH estas são razões mais do que suficientes para se boicotar o pagamento das propinas. Por isso convocaram um referendo, cujos resultados foram conhecidos ontem. O sim ao "não pagamos" venceu por larga maioria (75 por cento dos votos), mas foi uma pequeníssima minoria que expressou a sua vontade. Apenas 220 alunos, dos quase cinco mil inscritos, votaram. No final do dia, João Ricardo Vasconcelos, membro da AE, não escondia o seu desalento. "Contrariamente às nossas expectativas, a adesão não foi boa".
Se poucos participaram na iniciativa organizada pela associação de estudantes, já na hora de falar das condições de trabalho na FCSH todos têm algo a dizer. Sobre o que de mal existe e sobre o que falta na escola. Desde funcionários nos serviços académicos até à biblioteca que garantem estar prometida há três anos e que nunca foi construída por não haver verbas. Ainda segundo os alunos, existem na escola trinta computadores para um total de 4700 estudantes.
"Neste momento apenas sobrevivemos porque tem de ser. A manutenção é assegurada ao mais baixo nível", diz Inês Borges da AE. E garante que o orçamento enviado pelo Ministério da Educação não é "minimamente suficiente". A prova: "O ano passado, as despesas para pagamento de salários a funcionários e professores estavam a absorver 102 por cento do orçamento. Noventa mil contos foram retirados das propinas", denuncia Inês Borges. "Ou seja, os estudantes estão a cumprir a sua parte, pagando as propinas - se não o fizerem vêem os seus actos curriculares serem suspensos. Já o Estado não está, porque não respeita o estipulado na lei, que determina que as propinas sejam utilizadas para promover a qualidade do ensino", diz João Ricardo Vasconcelos.
"Governo deve dinheiro à Faculdade"
Mais grave ainda, acrescenta a AE, é que os salários dos professores podem estar em causa uma vez que os 2,5 por cento de aumento acordado para a função pública não foi contemplado no orçamento deste ano. Jorge Crespo, director da FCSH, assegura no entanto que os vencimentos não estão em risco. Mas mantém que o "Governo deve dinheiro à Faculdade", já que os mais de 60 mil contos que resultam do aumento decretado não foram atribuídos à escola. E vão poder suportar os encargos adicionais? "Que remédio. Temos de poupar", resigna-se Jorge Crespo.
A situação corresponde a um "agravamento da situação criada no final de 1999", confirma o reitor da Universidade Nova de Lisboa, Sousa Lobo. Só que, sendo os "salários prioritários, geralmente atrasam-se outros pagamentos ou criam-se dívidas de outra natureza para acorrer aos ordenados", explica. Quanto às condições materiais, o reitor avança que será "solicitado um reajustamento de verbas do PIDDAC para as reparações urgentes e feito um estudo visando a renovação a médio prazo".
Ainda que conscientes das dificuldades que afectam a FCSH, os estudantes não aderiram à acção convocada pela AE. Porque se "agora já não existem condições, se não se pagar as propinas isto vai ser um caos", justificava Lucília. "Ao pagarmos ficamos com o direito de exigir. Mas se não sairmos da cepa torta se calhar não vale mesmo a pena", respondia uma aluna de Estudos Portugueses que, de qualquer forma, "provavelmente" não iria votar. Uma colega reconhecia: "As pessoas sentem os problemas mas o que querem é vê-los resolvidos". Entre críticas à AE por falta de organização e desconhecimento absoluto da iniciativa, a abstenção acabou por ser a principal vencedora do referendo levado a cabo na FCSH. "Agora vamos pensar noutras formas de auscultar os estudantes", afirmou João Ricardo Vasconcelos.(08.12.00/Fonte : Público)
A taxa de penetração da Internet na Europa cresceu 55 por cento em apenas seis meses, tendo passado de 18 por cento em Março para 28 por cento em Outubro.
Segundo números da Comissão Europeia, com base nos dados do Eurobarometer, quase um terço dos europeus já efectuou compras online, embora apenas 4,7 por cento o faça regularmente.
"Estes números são encorajadores. 2000 foi verdadeiramente o ano da Internet na Europa", disse o comissário europeu para a Sociedade da Informação, Erkki Liikanen, também encarregado do Plano de Acção "eEurope".
Esta conclusão resulta da avaliação do impacto da iniciativa eEurope, preparada pelo Conselho e Parlamento europeus e que deverá ser apresentada na Cimeira de Nice, amanhã e sexta-feira.
Em Dezembro de 1999 a Comissão Europeia lançou o eEurope com o objectivo de "integrar todos os europeus na idade digital e online". Aprovada na Cimeira da Feira em Junho de 2000, durante a Presidência portuguesa da União Europeia, a iniciativa traçou metas concretas na área da Sociedade da Informação a alcançar até 2002. De acordo com a Comissão Europeia, a iniciativa eEurope "tem tido um grande impacto tanto nos Estados membros como a nível europeu".
No documento de avaliação do eEurope, a CE destacou várias iniciativas para aumentar o uso da Net, tais como ligar mais escolas e bibliotecas à rede.
A dimensão social do eEurope, nomeadamente ao nível das políticas de emprego, foi reforçada com uma proposta da Comissão, que sublinha a importância das actividades relacionadas com as tecnologias de informação e comunicação e da aprendizagem. A CE destaca ainda a influência da iniciativa no acelerar de legislação nestas áreas e no desenvolvimento de redes de investigação transeuropeias. Liikanen sublinha, porém, que há desafios que permanecem, como a segurança dos sistemas de informação e uma melhor coordenação tanto a nível comunitário como com os países candidatos à União Europeia.(06.12.00/Fonte : Diário de notícias)
Viseu vai ter universidade pública
José Junqueiro diz que a criação do novo instituto irá a Conselho de Ministros neste ano lectivo
Viseu vai ter ensino universitário público em breve, garantiu o presidente da distrital do PS. José Junqueiro anunciou que o documento que cria a Unidade Orgânica da Universidade de Aveiro na cidade irá a Conselho de Ministros ainda este ano lectivo.
A questão do ensino universitário público em Viseu é uma das mais polémicas reivindicações da região e esteve na origem de significativas manifestações de rua quando o Governo decidiu que a faculdade de medicina ficaria na Covilhã, em detrimento da "capital" da Beira Alta.
O documento a apresentar em Conselho de Ministros designa a universidade por Instituto Universitário de Viseu (IUV), no âmbito da lei que reorganiza o ensino superior. "Esta nova realidade, apesar de se manter o papel da Universidade de Aveiro (UA) na organização inicial do IUV, permite criar condições para que a autonomia total seja uma meta a atingir, mesmo que, desde o início, o corpo docente e a direcção seja distinta da UA", disse à agência Lusa José Junqueiro.
O novo estabelecimento terá cursos de formação universitária inicial, mas também as pós-graduações, mestrados e doutoramentos.
O prazo para o arranque desta nova estrutura de ensino superior, que em Viseu se junta à Universidade Católica, Instituto Politécnico e Instituto Jean Piaget, "não vai depender do haver ou não instalações definitivas mas sim da decisão do Conselho de Ministros". "Tudo estará decidido este ano lectivo", precisou.
O Governo, segundo Junqueiro, está a tentar "evitar criar cursos já existentes" nas outras instituições de ensino superior da cidade. "Não faz sentido andar a criar condições de concorrência contraproducentes", justificou.
José Junqueiro não tem dúvidas de que a redefinição do futuro ensino universitário na cidade, passando de Unidade Orgânica da Universidade de Aveiro para Instituto Universitário de Viseu, é "o culminar de um grande esforço que foi feito para que a cidade tenha universidade pública.
O Governo vai manter o contrato com a Universidade Católica, cujos alunos pagam uma propina igual àquela que é paga no ensino superior público. "Mais do que ser mantido, o contrato com Universidade Católica deverá ser intensificado, consolidando o que já existe", defendeu.
Esta medida tomada pelo Ministério da Educação, no tempo de Marçal Grilo, surgiu na sequência dos protestos públicos devido ao facto de uma das duas faculdades de medicina ter ficado na Covilhã.(05.12.00/Fonte : Diário de notícias)
Maleta pedagógica "ensina" o Alentejo
Loja do Ambiente em Évora inaugurada com apresentação de "enciclopédia" sobre litoral alentejano
A Maleta Pedagógica do Litoral Alentejano é a principal curiosidade da Loja do Ambiente em Évora, que abriu ao público no Centro Comercial Eborim. Trata-se de um elemento "altamente pedagógico", como o classificou o secretário de Estado do Ambiente, sobretudo para as crianças da cidade, entre 12 e 15 anos, embora os adultos também sejam recomendados a fazer a sua consulta.
A maleta, um projecto da autoria da Direcção Regional do Ambiente e Ordenamento do Território (DRAOT), é uma autêntica "enciclopédia", que visa dar a conhecer o meio ambiente do litoral alentejano, de onde se pode, quase, "partir à descoberta", explorando os habitats costeiros daquela região. A DRAOT acredita que desta forma está a facilitar também a vida aos professores, que passam a dispor aqui de um novo instrumento para melhor explicar aos alunos o funcionamento dos ecossistemas.
De resto, a Maleta Pedagógica do Litoral Alentejano apresenta um aspecto atractivo. É pintada a azul-marinho e a aba exibe um caranguejo branco. No seu interior, encontram-se alguns materiais didácticos, a par de aparelhos técnicos de experimentação, que incluem, por exemplo, um mini-guia ilustrativo das espécies de fauna e flora e uma abordagem à geologia daquela zona do País. Entre outras curiosidades, conta-se ainda um manual de observação da natureza, um caderno de campo e um mapa topográfico e geológico da costa alentejana.
Mas não é tudo. Para quem quiser um dia fazer estudos de prospecção no próprio terreno, a maleta sugere que os aventureiros se façam acompanhar de vários instrumentos técnicos, cuja utilização pode ser desde já testada, através de uma lupa-bússola-binóculo, recipientes para recolha de água, frascos amostradores para animais de pequeno porte e fitas de medição de PH e nitratos.
Em declarações ao DN, o secretário de Estado do Ambiente, disse acreditar que pode estar aqui um meio de "envolver a população nas questões ambientais", numa altura em que, "continua a verificar-se uma indesejável ausência de público em debates importantes para a sociedade". Para Rui Gonçalves, uma das grandes prioridades deve passar por alertar os cidadãos "para que participem mais e nós vamos intensificar todos os esforços no sentido de chegar à população".(03.12.00/Fonte : Diário de notícias)
Um filme solitário de um realizador individualista
"Camarate" não é um arremedo de "JFK" nem uma fita militante à europeia. É um filme português sobre um drama nacional
Se Luís Filipe Rocha tivesse nascido americano em vez de português, eu arrisco escrever que ele se teria especializado em westerns secos e em policiais lacónicos, com heróis individualistas. E decerto nunca teria feito um filme "de mensagem", antes preferido seguir o imortal conselho de Raoul Walsh: "Quando quero mandar uma mensagem, uso o correio."
Situando-se nos antípodas do que muitos poderiam esperar de um filme com este título e tema - ou um pobre arremedo de JFK, ou uma panfleto à cinema europeu "militante" - Camarate é também, e antes de mais, um filme profundamente só, rasgadamente singular, escancaradamente individualista, no panorama do cinema português contemporâneo.
Um cinema viciado (agora um pouco menos, felizmente) na clonagem em série, no "à maneira de", nos umbiguismos de "autor" ou no abjeccionismo disfarçado de realismo, do que no confronto com temas e acontecimentos da história nacional recente ou longínqua, na auscultação de factos marcantes, ainda frescos e a doer na memória colectiva - onde está o filme português de referência, pró, contra ou descritivo - sobre a guerra do Ultramar?; ou, simplesmente, no gosto pela realidade quotidiana e imediata.
Camarate é, na filmografia do "cavaleiro solitário" Luís Filipe Rocha, uma obra que lhe vem coroar quer o interesse pelo real e pelo passado próximo de Portugal, revelado em títulos como A Fuga ou Sinais de Fogo, quer o gosto pela intriga romanesca. Ambos aliados ao nível do trabalho narrativo e cinematográfico, e à ausência de facilidades ideológicas, de soluções emocionais prontas-a-usar ou de poeira para os olhos estética e formal.
Sobre o ser um filme antidemagógico, apolítico, analítico, claro e desapaixonado (tanto, que quase nem parece feito por um português, antes por um observador estrangeiro) focado num acontecimento de ressonância nacional revolvido por paixões e emoções inflamadas, e toldado por contradições, paradoxos e interrogações, na senda dos inquéritos policiais, judiciais e parlamentares, Camarate é também um modelo de organização de realidade e ficção num todo que entretém, prende e clarifica. E sem deixar um fio à mostra, uma costura que seja à vista.
Há muito tempo que um filme português não mostrava uma tal qualidade e unidade de conjunto como Camarate, não desprendia uma tão forte sensação de trabalho profissional, de honestidade intelectual e de domínio narrativo. Tivessem os políticos, advogados e polícias as qualidades que Luís Filipe Rocha exibe como cineasta, e o caso Camarate já há muito tinha sido resolvido.(01.12.00/Fonte : Diário de notícias)