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Aos 15 anos, Joaquim Vital era um dos colaboradores mais brilhantes do suplemento "Juvenil" do Diário de Lisboa. Aos 15 anos, Joaquim Vital já era perseguido por professoras beatas e pelo padre de Moral por se atrever a escrever um conto subtil onde punha em causa a eficácia da medida salazarista de encerramento de casas de passe. Aos 15 para 16 anos, Joaquim Vital era preso pela PIDE. Ainda nem sequer havia DGS... Foi então que deixou Portugal, em meados dos anos 60, buscou a França, estudou, estabeleceu-se, nunca se afastou do mundo da literatura. Lançou uma editora, La Différence, com a qual tem transportado para o terreiro francófono autores portugueses, contemporâneos e clássicos. Mas também o tem feito com autores árabes e de outros quadrantes.
Agora publicou um livro seu. De poemas. Em francês. Entregando a sua poesia na língua da terra que o acolheu e o albergou a maior parte dos seus dias - já são uns 35 de 52 anos! Continua subtil o Joaquim Vital. Por muito que se autoflagele no título, dizendo de si que ladra. Pelo contrário, sussurra, penetrando com a suavidade de um estilete que chega gélido e só aquece quando trespassou. Pressente-se que cada palavra dos seus poemas lhe andou que tempos a bailar nos lábios, foi volteada na boca como o vinho numa prova. Rota de viagens pelo mundo e por si próprio, estes poemas de Joaquim Vital nasceram um pouco por toda a parte - lago Balaton, Budapeste, Flandres, Paris, Lisboa, Goa -, mas traçam apenas uma topografia interior, onde a palavra e a sensação travam uma luta pela hegemonia e repousam enfim nos poemas, nem vencidas nem vencedoras.
São poemas para ler devagar, muito devagar. Para passar os dedos por cima e sentir como que uma osmose que nos diz como nasceram, como se entreteceram. E para perceber que o autor é um português. Porque é preciso ser-se português para comungar com Joaquim Vital da mesma vibração nas sonoridades subtis - outra vez! - do seu arranjo de palavras. Porque há coisas que só fazem sentido português - em francês, como este fragmento arrancado por Joaquim Vital ao Cais das Colunas: "On ne part jamais / on s'en va quelquefois."(28.11.00/Fonte : Diário de notícias)
É mais uma editora portuguesa de banda desenhada dedicada à causa alternativa. Para começar, lançou no mercado dois álbuns recomendáveis, assinados por Isabel Carvalho e Jacques Creswell
Em Portugal, o número de editoras dedicadas à banda desenhada tem vindo a crescer como cogumelos, contribuindo para dar vazão aos muitos talentos que têm surgido na última meia dúzia de anos, sem dúvida um dos mais interessantes períodos da história da BD nacional. Agora, é a Nova Comix que apresenta as suas cartas, pela mão de Horácio Gomes, lançando no mercado dois novos títulos: Eat & Spit, de Isabel Carvalho, e A Canção do Viajante, de Jacques Creswell.
Em press release, Horácio Gomes, que desde logo se coloca do lado da BD "preferencialmente alternativa", em detrimento do mercado "juvenil ou de compilação de tiras", explica os objectivos da sua editora: "aumentar e dinamizar o ainda tão estreito mercado português, e encorajar os autores que o compõem a um maior dinamismo da sua actividade criativa". O melhor que se pode dizer das suas primeiras edições é que, para o bem e para o mal, cumprem os objectivos a que a Nova Comix se propõe.
Inseridos numa linha dita "alternativa", mas que hoje ocupa uma parte não despicienda - se não em termos de volume de vendas, pelo menos em termos de prestígio e atenção - da produção europeia e americana de banda desenhada, Eat & Spit e A Canção do Viajante têm vários pontos em comum (pontos esses que, de certa forma, são característicos do universo alternativo): preto e branco; um traço que se afasta das boas proporções e do registo naturalista; referências oníricas e nonsense; mergulho em ambientes intimistas e, não raras vezes, autobiográficos.
Levando ao extremo a adopção de uma costela que não se preocupa com o mainstream e acredita que o público a que se dirige é culto e bem formado, ambos os títulos mantêm a língua original em que foram elaborados, o que torna a vida complicada a quem não domina o inglês (no caso de Isabel Carvalho), ou o inglês, o francês e um pouco de alemão e castelhano (no caso do poliglota Jacques Creswell).
Em relação a Eat & Spit, registe-se que Isabel Carvalho, 23 anos, confirma o que o seu trabalho no pequeno álbum de conjunto Lisboa 24 Horas ou no último número da revista Quadrado já vinha insinuando: estamos diante de uma autora que possui uma identidade própria e que utiliza a banda desenhada como uma forma de falar sobre o mundo e expressar as suas vivências. Amores, desamores, alegrias e tristezas (mais as segundas do que as primeiras) integram um trabalho íntimo, sensível e, já agora, bastante feminino.
Quanto a Jacques Creswell, parisiense de 26 anos sedeado em Portugal desde 1998, tem em A Canção do Viajante (de português, só mesmo o título) a sua primeira obra publicada, e em boa hora a Nova Comix o deu à estampa. Não será ainda um trabalho exemplar, mas o retrato da espiral de decadência de um homem que abandona os sentimentos seguros para se pôr on the road está bem tirado e dá sinais de uma surpreendente maturidade.
Assinale-se ainda uma qualidade de ambas as edições: no final dos álbuns existem pequenas biografias e entrevistas com os autores. É uma decisão feliz, esta, porque permite ao leitor conhecer um pouco da pessoa por trás da obra, mas por vezes há uma excessiva preocupação em explicar o que se acabou de ler, como se num mesmo volume se juntasse obra e interpretação da obra - o que é original, mas dispensável.(27.11.00/Fonte : Diário de notícias)
Defender a Língua Portuguesa é um assunto importante em Timor-Leste. É importante porque os timorenses sabem que a utilização do português lhes dará um traço de inequívoca diferença em relação aos seus vizinhos e ex-ocupantes indonésios. É evidente que não vivemos num mundo fechado, sendo normal que o tétum, o próprio indonésio e o inglês interessem, por razões diferentes, aos timorenses. O tétum é língua mãe em Timor-Leste; o indonésio poderá ser língua de negócios; o inglês é a língua franca dos nossos tempos. O que poderá interessar aos poucos timorenses poderá interessar aos habitantes do planeta, em qualquer lugar? Penso que sim.
É importante respeitar a nossa forma de estar, sentir e expressar o Mundo, a nossa cultura. Na Islândia, país com cerca de 300 000 habitantes, procura-se preservar a língua, muito antiga, como forma de continuar a ter uma identidade nacional. Isso sem qualquer intenção de menosprezar o inglês, cada vez mais importante, para todos. O português faz parte da herança cultural de Timor-Leste, como de Moçambique, Angola, S.Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Cabo Verde, ou Brasil e Portugal. Em todos esses países, com excepção do Brasil e Portugal ele não é língua mãe. Mas quanto maiores são os nossos horizontes em termos de conhecimento e uso de idiomas, mais apetrechados estamos, mais conceitos podemos entender. Porque se tornou tão importante a língua inglesa? Por ser simples, creio eu, em termos gramaticais.
Na realidade, não é simples em absoluto, mas permite um uso quase telegráfico e um domínio fácil do essencial. O português anda a ser pouco defendido. Isto apesar do esforço feito para a sua manutenção, nomeadamente em Timor-Leste. Eu participei nesse esforço. Seria importante que os nossos académicos procedessem à defesa do português em conjunto com o Brasil.
Seria importante entendermo-nos com o Brasil, a nível da ortografia. E nem é demasiado difícil. Os brasileiros, terão até razão, quando escrevem "atual" em vez de "actual", por exemplo. Devemos estar atentos ao que se passa no Brasil, neste momento, em termos de defesa do português: traduzem-se expressões inglesas, constituiu-se o Movimento Nacional em Defesa da Língua Portuguesa, na Internet e 170 deputados apoiam um projecto de Aldo Rebelo, que diz: "O povo brasileiro ama a língua portuguesa, tem orgulho dela". Falar com eles é claramente necessário.(24.11.00/Fonte : Jornal de notícias)
Lobo Antunes apresentou livro sobre Ruth Bryden
Chegava ao fim a chuvosa tarde de segunda-feira quando foi apresentado, no Teatro Politeama, em Lisboa, o último livro do jornalista Carlos Castro, Ruth Bryden, Rainha da Noite, editado pela Dom Quixote. A apresentação foi feita por António Lobo Antunes, numa iniciativa rara por parte do escritor. Como se sabe, Lobo Antunes é avesso a este tipo de realizações, não participando no lançamento dos seus próprios livros nem no de outros autores. No entanto, abriu uma excepção. Tal excepção prende-se com o facto de ter sido o próprio escritor a incentivar Carlos Castro a escrever o livro em questão. Lobo Antunes terá tomado conhecimento da trágica história de Ruth Bryden através de um artigo que leu durante uma viagem de avião, já depois de esta ter morrido. O que leu abalou o seu espírito e inspirou-lhe uma ideia para um livro. É essa mesma ideia que está presentemente a trabalhar, com grandes dificuldades, como referiu recentemente. O autor de Fado Alexandrino fez questão de salientar que o livro se tratava de um documento muito importante e pioneiro em Portugal. Lobo Antunes chamou a atenção para a personalidade complexa e contraditória de Ruth Bryden, bem como para a sua força e coragem, características que têm comovido e fascinado o autor à medida que vai lendo e conhecendo mais sobre a alma daquela que foi uma das grandes figuras do espectáculo do travestismo português. Acrescentou ainda que sente um grande respeito por pessoas que têm a coragem de assumir a diferença. Por seu lado, Carlos Castro agradeceu a todos aqueles que o apoiaram e tornaram possível o seu livro, em especial a Lobo Antunes, o homem que "fez questão de que eu o tratasse apenas por António, num país cheio de nomes pomposos". A emoção dominou, naturalmente, Carlos Castro quando falou do amor que sente por Ruth Bryden e do amor que a equipa do Hospital Curry Cabral soube espelhar.
De nome Joaquim Centúrio de Almeida, notabilizou-se no universo do espectáculo através da arte do travestismo. Viveu uma adolescência conturbada, casou-se aos 21 anos, teve um filho, separou-se, passou pela tropa, estreou-se no Scarlatty, amou muito, tentou o suicídio, morreu o ano passado. Toda a sua vida está descrita no livro do seu íntimo amigo Carlos Castro, essa vida que se poderia resumir na frase "Nós somos o que somos".(22.11.00/Fonte : Diário de notícias)
Universidade de Coimbra debate "transparência"
Programa Ciência Viva é visto como um bom exemplo
A existência de jornalistas especializados aptos a compatibilizar o rigor com a clareza da informação científica é fundamental para "tornar a ciência cada vez mais transparente" na sociedade. Esta é uma das conclusões dos II Encontros "Ciência e Sociedade" que decorreram, este fim de semana, no Pólo II da Universidade de Coimbra (UC), no Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia.
"É preciso incentivar a componente altamente profissionalizante do jornalismo científico", declarou à Agência Lusa o professor Luís Adriano Oliveira, da organização dos encontros. Ao resumir as principais conclusões dos debates, o docente de Engenharia Mecânica defendeu que "a ciência tem que praticar uma linguagem específica enquanto se constrói e uma linguagem de comunicação acessível enquanto se divulga".
Acrescentou que esta é a obrigação dos cientistas na sua relação com os profissionais da informação, para que estes "possam entender o essencial e comunicar uma mensagem correcta e rigorosa ao grande público". Por outro lado, segundo Luís Adriano Oliveira, "a democracia cria mecanismos de transparência e de avaliação sem os quais uma boa ciência não pode ser praticada". Contudo, advertiu, não se verifica "uma correlação directa entre uma boa prática de ciência e o conceito de democracia", designadamente em Portugal, 26 anos após o derrube da ditadura.
Luís Adriano Oliveira aludiu ainda à necessidade de "compatibilizar a responsabilidade dos profissionais e meios de comunicação especializados com a diversidade temática" da investigação científica que deve ser levada ao conhecimento da sociedade.
O professor considerou que o programa Ciência Viva, do Ministério da Ciência e da Tecnologia, constitui "um bom exemplo do que se pode fazer para promover a sociedade do conhecimento".
A abertura da universidade a "novos públicos" é outra das formas de fomentar o conhecimento científico junto dos cidadãos em geral, o que pode concretizar-se através da realização de cursos de actualização e reciclagem a pessoas não matriculadas no ensino superior. "A universidade tem que incentivar a sua cultura de auto-avaliação" e adoptar "uma postura construtiva", concluiu.(20.11.00/Fonte : Diário de notícias)
Ensopado de letras com o padre António Vieira
"Palavra e Utopia", de Manoel de Oliveira, bate recorde de palavreado por centímetro de película
Tratando-se de um cineasta que atribui tão grande valor à palavra - e à palavra pesada, barroca, rebuscada -, era certo que, mais cedo ou mais tarde, o padre António Vieira haveria de cair nos braços de Manoel de Oliveira. Depois de ter inspirado parcialmente Non ou a Vã Glória de Mandar (1990), Vieira regressa em grande em Palavra e Utopia, que hoje estreia entre nós, traçando um retrato, entre a biografia e a apologia, do padre português, em 133 minutos ensopados de letras. As imagens e o cinema estão lá, mas este é um filme inteiramente dependente da fala e dos actores.
Nesse sentido, Palavra e Utopia funciona quando os actores funcionam e falha quando os actores falham. Daí deriva um problema estrutural que Oliveira não conseguiu (não quis?) resolver: o filme muda completamente de tom consoante muda o actor que interpreta o papel de António Vieira. O Vieira jovem (Ricardo Trêpa) nada tem a ver com o Vieira adulto (Luís Miguel Cintra), que por sua vez nada tem a ver com o Vieira velho (Lima Duarte). Apesar do catolicismo de Vieira, Manoel de Oliveira realizou um filme budista: cada vez que há um salto etário, deparamo-nos com uma espécie de reencarnação, constituíndo um novo ser que não tem qualquer memória daquele que o precedeu.
Essas mudanças de tom saltam aos olhos de qualquer espectador, embora depois haja duas formas de encarar o facto: ou nós achamos que o realizador deixou os actores em roda livre por opção própria; ou entendemos que a despreocupação com a consistência da obra é uma falha a ser apontada, como é o meu caso. Aliás, o mesmo tipo de raciocínio poderia ser aplicado às cenas de acção (a invasão da igreja é o caso mais evidente), onde o desajuste da mise-en-scène não é, no meu entender, um desejo de sublinhar um registo não-naturalista (como acontecia, por exemplo, no Godard da nouvelle vague) mas, tão-só, uma incompetência real para lidar com o movimento.
Mas nem vale a pena ir por aí, já que aquilo que de mais relevante Palavra e Utopia encerra não é, certamente, o movimento. O que mais importa é o português de Vieira - belíssimo, sem dúvida - e o que os actores fazem com ele. Nesse aspecto, é Lima Duarte quem leva a palma, não pela exactidão com que profere os textos, mas pela força com que o faz. Graças a ele, que transporta quase metade do filme às costas, Palavra e Utopia é uma obra recomendável, invertendo a sabedoria popular que diz que aquilo que nasce torto tarde ou nunca se endireita. Quer dizer: de certa maneira, endireita-se tarde, mas ainda vai a tempo de arrebatar o espectador da letargia que ameaçava possuí-lo.
Assinale-se que o filme de Oliveira começa muito mal, não porque o cineasta não saiba filmar (está longe de ter perdido o talento para compor planos perfeitos), mas porque o Vieira de Ricardo Trêpa tem uma expressividade pífia e uma evidente dificuldade em desenvencilhar-se dos barroquismos linguísticos - está a fazer tanto esforço para se lembrar das falas que se esquece da câmara. Luís Miguel Cintra, pelo contrário, oferece uma lição académica de como bem representar em todas as línguas, mas opta por uma postura algo distante e demasiado fleumática, que não associamos a um padre que viveu entre índios e conheceu as sete partidas do mundo.
Quando Lima Duarte entra em cena, aí sim, acreditamos estar diante do verdadeiro padre António Vieira. Como bom brasileiro, tem energia para dar e vender, empenhando corpo e alma em cada diálogo (e como funcionam bem as suas cenas de conjunto com Miguel Guilherme), com uma expressividade gigantesca, que supera uma ou outra dificuldade com os planos-sequência de que Oliveira não prescinde. Graças à espantosa composição do actor, o filme termina num nível muito alto. Ou seja, Lima Duarte oferece-nos um cheiro final de utopia, quando já pensávamos que apenas nos restava penar debaixo de tanta palavra.(17.11.00/Fonte : Diário de notícias)
Uma aposta na produção portuguesa
Vão aparecer nas telas mais filmes de realizadores nacionais, pela mão de Francisco Bravo Ferreira
A distribuidora FBF Filmes de Francisco Bravo Ferreira acaba de assinar com o Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimedia (ICAM) um protocolo de distribuição para apoio à produção, e prepara-se para distribuir comercialmente uma série de longas-metragens, "curtas" e documentários, a maior parte nacionais, sendo várias primeiras obras. Há ainda produções espanholas e co-produções envolvendo Portugal, Espanha e o Brasil. As curtas-metragens vão ser apresentadas "em complemento dos filmes de fundo", disse ainda Bravo Ferreira ao DN.
Entre as longas-metragens já contratadas pela FBF Filmes contam-se Terra Sonâmbula, sobre o romance de Mia Couto, e estreia de Teresa Prata; Exílio para a Terra Natal, de Artur Ribeiro, também primeira obra, com estreia a 31 de Março de 2001; Café Cortado, do veterano Luís Galvão Teles; Estranha Forma de Vida, de António Duarte; Silêncio, de Jordi Cardena (co-produção) e Finisterra-Onde Acaba o Mundo, de Xavier Villaverde. Também Xavier, o primeiro filme de Manuel Mozos (Quando Troveja), vai ser distribuído pela FBF, uma vez acabado, prevendo-se que estreie em Maio do ano que vem.
Estão em negociações A Costa dos Murmúrios, de Margarida Cardoso (outra estreia nas "longas"), sobre romance de Lídia Jorge, The Bird Watcher, de Gabriel Auer, e Desmundo, uma das duas co-produções luso-brasileiras (a outra foi A Selva) apoiadas pelo ICAM este ano.
Entre as muitas "curtas" e documentários também assegurados pelo distribuidor nortenho encontram-se O Ralo, de Tiago Guedes, Chuva, de Luís Fonseca (que competiu em Veneza 99), Passeio, de Cristina Hauser, Entre Nós, de Margarida Cardoso ou Retornados ou os Restos do Império. Bravo Ferreira já conta com o Quarteto como cinema-base para as suas estreias em Lisboa.(16.11.00/Fonte : Diário de notícias)
Automóvel só sobrevive com fusões
Para o ministro Cristina de Sousa, o futuro da indústria passa pela criação de um autêntico "cluster"
A cooperação e as fusões e aquisições interempresas são as condições necessárias para a sobrevivência da indústria de componentes automóveis portuguesa, defendeu ontem o ministro da Economia.
Na abertura do IV Encontro Nacional do sector, Mário Cristina de Sousa considerou que "a afirmação da indústria nacional terá de passar pelo crescimento e consolidação de um autêntico cluster automóvel, com base numa sólida presença nacional das empresas portuguesas e no desenvolvimento de competências estratégicas que possam ser utilizadas para a obtenção de uma posição de destaque a nível internacional".
Para o ministro, a indústria automóvel tem um "potencial de crescimento muito grande", mas "a sobrevivência da maioria das empresas fornecedoras de componentes será posta em causa", se estas não adquirirem "dimensão crítica na abordagem ao mercado global".
Rejeitando qualquer possibilidade de este movimento de concentração vir a implicar despedimentos, uma vez que "o que está em causa é ganhar mercado", Cristina de Sousa destacou que o desemprego já não é, aliás, "um problema sério em Portugal", onde se está "praticamente em pleno emprego".
No sentido de captar investimento directo estrangeiro no sector, para "vitalizar e animar esta indústria", o Governo, em aliança com as estratégias empresariais, tem ainda vindo a criar "factores indutores para a manutenção dos construtores existentes em Portugal", afirmou.
Para Sousa Ribeiro, presidente da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA), organizadora do encontro, as perspectivas para o sector são "optimistas", decorrendo a bom ritmo a internacionalização das respectivas empresas.
Em termos nacionais, salientou, impõe-se a concretização de um acordo com um fabricante automóvel para a reutilização das instalações da Sodia, em Setúbal, até há alguns anos ocupadas pela Renault.
"Começaríamos a ter mais conforto e massa crítica e haveria mais fornecedores a poder entrar neste clube restrito", afirmou Sousa Ribeiro.(14.11.00/Fonte : Diário de notícias)
Holofotes a policiar o infinito
Acaba de ser lançada uma edição fac-similada de "K4 O Quadrado Azul", de Almada-Negreiros
"Oh! puff! como Eu odeio a Humanidade que se exprime! O que é o escândalo senão o Homem? (...) Há coisa mais obscena do que a Humanidade? Esta coisa que pretende dominar a Terra e que escorrega em desordem plos continentes até secar em morte?" (...) A ironia corrosiva de José de Almada-Negreiros expressa aqui, em K4 O Quadrado Azul - que acaba de ser publicado numa belíssima edição fac-similada -, afirma-se como um grito niilista aparecido sob a forma de folheto, em 1917, e constituído por um único parágrafo.
O texto surge "com os direitos de reprodução ingleza reservados a Fernando Pessoa", dedicado a Amadeo, com uma nota dizendo que a obra foi lida, pela primeira vez, não só por aquele como por Santa-Rita Pintor, "da Intellectualidade Portuguesa". Almada tinha-se tornado amigo de Pessoa e com ele participaria, entre 1915 e 1917, na aventura futurista. Diga-se, por curiosidade, que K4 O Quadrado Azul é editado no ano da publicação do pungente e tão esquecido Húmus, de Raul Brandão.
Segundo Pessoa, Almada ligava "o sorriso do seu lápis" ao "polimorfismo da sua arte". Seria, entretanto, "Poeta do Orpheu, futurista e tudo", nos poemas como nos manifestos. A essência do criador passaria rapidamente das estruturas literárias do simbolismo habitadas por Pierrots e Arlequins a formas de expressão mais violentas, como A Cena do Ódio, de 1915, e publicada em 1958, que pode ser considerada, com a Ode Marítima, o maior poema parafuturista português.
A Engomadeira, texto no qual o escritor lança, segundo Nuno Júdice, "as bases de uma escrita surrealista que acabará por não vingar entre nós" - embora tenha casos ímpares como os de António Maria Lisboa e de Cesariny -, surge em 1917. É forte o seu sentido da picturalidade, que viria a ser desenvolvido em K4 O Quadrado Azul. Os Saltimbancos, do mesmo ano, confirma, por outro lado, a solidão deste artista plástico, poeta, romancista, dramaturgo e ensaísta, cuja linguagem, referiu-o Vitorino Nemésio, era de uma "linearidade prodigiosa", e visionária no sentido plástico, como observou Jorge de Sena.
Mas é na "perpendicular do desejo" que se afirma K4 O Quadrado Azul, caótico no seu discurso embriagado e vertiginoso, enunciador da escrita automática em língua portuguesa e revelador de uma procura de identidade. David Mourão-Ferreira diz mesmo que o livro se impõe como "um implacável veredicto quanto à impossibilidade de narrar". Perfumes, quimonos, um marquês e uma marquesa, personagens desmontadas, a "mortalidade d'esta ignorância", o inenarrável, o maravilhoso, o absurdo, a sátira, a inteligência de Almada "fabricada de substância de eternidade", ela que existe, "mas não tão devagar" num texto esboçado numa aparentemente lúdica associação de imagens e de ideias, que denuncia a mestria do desenhador.
Claro que, no seu lirismo profético, Almada formula um juízo sobre uma dada realidade cultural em frontal oposição ao saudosismo, com os seus olhos como "holofotes a policiar o infinito". E no novelo ficcional de K4 O Quadrado Azul atravessam-se reflexões fugazes sobre a condição humana, o eterno e o lugar do Homem no universo cósmico. Ou não seria o dele próprio?(11.11.00/Fonte : Diário de notícias)
Novo livro de José Saramago apresentado dia 20 em Loulé
"A Caverna" inspira-se na famosa alegoria de Platão
A última obra do escritor português e Prémio Nobel José Saramago, intitulada A Caverna, vai ser apresentada e lançada ao público a 20 de Novembro, em Loulé.
Inspirada na alegoria da caverna, do filósofo grego Platão, o mais recente livro de José Saramago vai ser apresentado na Biblioteca Municipal de Loulé na presença do autor.
Além de Saramago, que vai falar sobre a sua nova obra e também autografar alguns livros, vão estar presentes na cerimónia de apresentação de A Caverna o director da editorial Caminho, Zeferino Coelho, e o presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo.
Segundo a editora, depois dos sucessos literários Memorial do Convento, Jangada de Pedra e O Evangelho segundo Jesus Cristo, que o levaram à consagração internacional com a obtenção do Prémio Nobel da Literatura em 1998, José Saramago apresenta, desta vez, um novo livro "dentro do estilo linguístico e poético que habituou os seus leitores".(9.11.00/Fonte : Diário de notícias)
Banco do Brasil suprime termos ingleses
São Paulo - Falar ao público de «Office Banking» ou «Personal Banking» deixa muita gente sem entender nada e por isso o Banco do Brasil decidiu dirigir-se aos clientes apenas em português. Assim anunciou esta terça-feira o chefe de divisão de gestão da marca do estabelecimento, Carlos Alberto Reis, face às conclusões de um relatório solicitado pelo Banco.
Este relatório evidenciou que a maioria dos clientes não vê sentido no uso de termos de outro idioma quando existem equivalentes no português, o que apenas confunde o cliente. Reis espera que no início do próximo ano os 1.300 locais de auto-atendimento do banco no país tenham os seus serviços exclusivamente em português.(4.11.00/Fonte : Jornal Digital)
Vídeos e CD-ROM portugueses em Atenas
Certame Medi@terra 2000 de amanhã até dia 7
O Festival Internacional de Artes e Tecnologia Medi@Terra 2000, que começa amanhã em Atenas (Grécia), prolongando-se até dia 7, exibe um conjunto de trabalhos portugueses na área do vídeo e CD-ROM.
Ao todo, passam dez vídeos, divididos em duas sessões, que combinam diferentes tendências e abordagens do meio no nosso país. Os títulos em exibição incluem: Lixo, de Rita Nunes, Fragment Between Time and Angels, de Pedro Sena Nunes e Who is the Master Who Makes The Grass Green, de Edgar Pêra.
Os cinco CD-ROM são: OEDÍVOTUAUTOVÍDEO, de Ana Domingues, V-JAM e Écrans Orgânicos, de Luís Miguel, Ruptura, de Patrícia Gouveia e Senses, de Célia Quico. A representação nacional está a cargo do VídeoLisboa - Festival Internacional de Vídeo de Lisboa.(2.11.00/Fonte : Diário de notícias)